Diretoria rebaixa negociação e divide a categoria

Resistir e lutar por melhores salários ou conciliar? Essa é a contradição entre a combatividade demonstrada pela categoria e o caminho da institucionalidade adotado pela diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) nas campanhas salariais dos últimos anos.

Foi justamente na institucionalidade, ao conciliar com a negociação rebaixada no Ministério Público do Trabalho, que a diretoria do SJPMG propôs, nas redações, aos trabalhadores da notícia o reajuste salarial de 7% como única proposta viável para a categoria, pondo fim à campanha salarial de 2014. Ora, todos sabemos que esse valor já está sendo corroído pela inflação real e pelos já previstos aumentos de tarifas públicas após a eleição.

De lado o pífio reajuste concedido na campanha salarial deste ano, poderíamos ter como saldo positivo a disposição de luta dos Jornalistas de Minas por melhores salários, que mesmo em diferentes redações demonstraram força recusando repetidas vezes as migalhas oferecidas pelos patrões. Entretanto, a diretoria do SJPMG encarregou-se de desarmar e enfraquecer os trabalhadores da notícia ao incluir à surdina a cláusula de negociação de condições de trabalho específica por empresa, sem nenhuma consulta prévia à categoria.

Essa cláusula fere o princípio da territorialidade da representação sindical. E pior, essa aberração jurídica – que contrabandeia uma das propostas da chamada flexibilização das leis trabalhistas – divide e enfraquece a categoria na medida em que a diretoria (do que um dia já foi um sindicato estadual) poderá fechar acordos coletivos diferentes para cada redação. Não é preciso muito esforço para perceber que com fracionamento da categoria os patrões poderão exercer mais pressão nas redações. Então por que incluir esse ponto na convenção? A diretoria do SJPMG deve mais essa explicação aos Jornalistas de Minas.

Assembleia nas redações

A maior prova da pressão patronal sob os jornalistas nas redações durante a campanha salarial foi dada no Estado de Minas, com a demissão de um companheiro da Oposição Sindical que, simplesmente, durante a assembleia realizada na porta do jornal propôs aos colegas de trabalho recusar o também pífio reajuste de 6%.

Lamentavelmente, a diretoria agiu como se nada tivesse acontecido e semanas depois realizou dentro da redação do Estado de Minas, onde geralmente não é permitido o acesso do Sindicato, nova assembleia da campanha salarial. Sabemos do valor de cada companheiro do Estado de Minas, como sabemos que naturalmente nessas condições o resultado da assembleia só poderia ser mesmo aceitar a contraproposta patronal.

Na redação do jornal O Tempo, 90 jornalistas posicionaram-se contra a proposta patronal. Ao mesmo tempo em que a diretoria do sindicato demostrava certa “convergência” com a recusa dos companheiros do jornal, conduzia a negociação nas outras redações, a exemplo do Estado Minas, com o intuito de fechar o acordo da campanha salarial em 7%.

As reivindicações dos trabalhadores do O Tempo, assim como em outros jornais, vão além do aumento e reajuste dos salários. A retomada da escala de plantão de três folga por um final de semana trabalhado, o pagamento de vale-refeição, o cumprimento do banco de horas e a criação de um plano de carreira são apenas algumas das pautas que precisam ser levadas adiante.

Assessorias

Mais uma vez, a condução da campanha salarial dos jornalistas que trabalham em assessorias de comunicação não foi capaz de mobilizar esse importante segmento da categoria. Os desafios são muitos: salários abaixo do piso, falta de carteira assinada, jornadas de trabalho superiores a 8 horas diárias, não pagamento de horas extras e outros.

A valorização do assessor de comunicação é também a valorização de toda categoria, pois como sabemos o jornalista não tem a mínima estabilidade no emprego, estando sujeito a mudanças na sua área de atuação. Um dos instrumentos para superar esse problema e fortalecer a luta por melhores condições de trabalho é a unificação da campanha salarial de assessorias, impresso, rádio e TV, na capital e no interior.

Não podemos e não vamos aceitar essa divisão patrocinada pelo próprio SJPMG, que na campanha salarial deste ano realizou a última assembleia de rádio e TV em uma votação chamada para uma quarta-feira à noite, véspera de feriado, dia de jogo da Taça Libertadores, quando boa parte dos companheiros deste segmento está trabalhando.

Precisamos unir a categoria para fortalecer a campanha salarial e a luta diária por melhores condições de trabalho. Precisamos desenvolver políticas capazes de combater a precarização da profissão, como a retomada da estabilidade para por fim às demissões sumárias, imotivadas e indiscriminadas dos trabalhadores da notícia. A luta, pois, e à vitória!

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