Confecom: outra farsa lulista

A Conferência Nacional de Comunicação (Cofecom), a se realizar nos três primeiros dias de dezembro próximo e convocada por decreto baixado pelo presidente Luís Inácio em 16 de abril, pode ser tomada como poderosa e mais que significativa expressão de toda a estratégia de dominação ideológica dos governos neoliberais instalados no Brasil desde o fim da ditadura militar. Neste sentido, Luís Inácio busca desempenhar com fé e orgulho a missão de todos os governos a serviço dos patrões: ampliar permanentemente ao limite do possível a opressão ideológica sobre os trabalhadores, seguindo os passos ensaiados por Collor de Melo e efetivados por Fernando Henrique Cardoso na linha de diluir os interesses próprios dos trabalhadores na geléia geral da chamada “construção da cidadania”. É neste campo que se insere a convocação à Confecom, que, especificamente, embute o objetivo de domesticação dos trabalhadores da área de comunicação social, a exemplo da frustrada tentativa do lulismo de criação do Conselho Nacional de Jornalismo.

Particularmente, interessa aos jornalistas de Minas Gerais o que realmente significa a realização de tal evento, já que o nosso sindicato integra formalmente o comitê de organização e preparação em nível estadual. Comanda o espetáculo em nível federal, a quatro mãos com o Ministério de Comunicações, a ONG Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), que tem hoje na sua coordenação geral um representante da Federação Nacional dos Jornalistas. À diferença dos governos militares que os precederam, que fizeram dos apelos patrióticos o eixo de sua manipulação de consciências, Fernando Henrique e Luís Inácio operaram na vertente ideológica da “consciência cidadã” como arma de combate à consciência de classe, esta, a verdadeira consciência dos trabalhadores, a que os identifica como classe social oposta à dos seus patrões.

Não se trata, como supõe o grande número daqueles que, mesmo no interior de nossa categoria, se deixam enganar pela fraude teórica e política de pretender fazer conviver complementarmente dois tipos de percepção de relações sociais – a “consciência cidadã” e a consciência de classe – antagônicos. Não. O fato é que ocorrência da primeira exclui a segunda, assim como o ser patrão é antagônico ao ser assalariado. Simples assim. Talvez a maior derrota sofrida pelos trabalhadores brasileiros – e, de resto, da maior parte daqueles que vivem do seu próprio trabalho em todo o mundo – nestes últimos vinte anos seja a de terem sido vitimados por um tipo de (in)consciência que os torna presas fáceis, inertes, do patronato que os explora e oprime.

E a expressão mais cristalina, a concretização mais clara, desta hegemonia conquistada no Brasil pelos governos Fernando Henrique e Luís Inácio é a criação do chamado sindicato cidadão. Que outra coisa não é que não a rendição – por ingenuidade ou oportunismo – da maioria dos sindicalistas do país, que abrem mão da centralidade da luta pelo salário e condições de vida e trabalho dos membros de sua categoria em favor de atividades cidadãs, como as que se inserem nos campos culturalistas de gênero, etnia etc. É neste lodaçal de mentiras e ingenuidade que se instala a Conferência Nacional de Comunicação convocada por Luís Inácio. Não satisfeito em haver construído uma rede de centrais sindicais coniventes com a exploração e opressão patronais, o presidente da República se empenha agora em dar seu golpe fatal em direção ao estado de seus sonhos, um estado do tipo “paz de cemitério”, com os trabalhadores reduzidos a serviçais inconscientes e, por isso mesmo, impotentes diante do capital, inofensivos aos patrões.

É contra esta ideologia da consciência cidadã e, por consequência, contra o sindicato cidadão que criamos a Oposição Sindical do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, comprometida essencialmente com a luta pela construção de um sindicato de trabalhadores, capaz, por isso mesmo, de levar adiante as reais reinvindicações do jornalista mineiro. Manifestamos aqui, portanto, nossa frontal discordância com o envolvimento do nosso sindicato nesta conferência arquitetada pelo governo federal e seus aliados, como, de fato, temos insistido na independência do sindicato frente a partidos e governos como questão de princípio.

Para se ter uma idéia: quem participará desta Conferência Nacional de Comunicação de Luís Inácio? Segundo cartilha especial elaborada pela ONG FNDC, “governo, empresários e sociedade civil”, entendendo-se por sociedade civil todo o conjunto de inumeráveis ONGs, ligadas ou não à atividade comunicacional, mas todas elas divorciadas das lutas próprias dos trabalhadores contra o patronato, visto tal divórcio como princípio fundador e estruturante destas instituições, típicas da sociabilidade neoliberal. Será que alguém, portanto, admite de sã consciência a hipótese de que o trabalhador brasileiro comum terá a mínima possibilidade de influenciar os rumos da comunicação social no país – objetivo alardeado pelos organizadores do evento?

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