Nota de repúdio a agressão ao fotógrafo Beto Novaes durante a manifestação de domingo
A Oposição Sindical dos Jornalistas de Minas repudia a agressão contra o fotógrafo Beto Novaes durante a manifestação realizada no último domingo (12) em Belo Horizonte. O jornalista, que tem grande semelhança física com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fazia a cobertura do protesto para o jornal Estado de Minas, quando uma senhora, por brincadeira pediu para tirar uma foto com ele. Neste momento um grupo de jovens manifestantes agrediu Beto Novaes com empurrões, ofensas, ameaças e um chute na coxa. Após as agressões o fotógrafo deixou o local e retornou para o carro da equipe de reportagem.
Ataques aos trabalhadores são práticas comuns a grupos proto-fascistas, que usam este tipo de violência como elemento estruturador de sua sociabilidade. E é nesse sentido que tal episódio tem que ser encarado. Não por acaso ofensas e ameaças contra outros jornalistas ocorreram tanto na mesma manifestação quanto em outros atos semelhantes realizados no país.
Em junho do ano passado, só no dia da abertura da Copa do Mundo, pelo menos cinco jornalistas foram feridos durante as manifestações nas principais cidades-sede do país. Em Belo Horizonte, o fotógrafo Sérgio Moraes, da agência Reuters, foi atingido por uma pedrada e teve traumatismo craniano leve. Em 2013, o fotógrafo freelancer Sérgio Silva perdeu o olho esquerdo ao ser alvejado por um policial enquanto cobria os protestos contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo. Sem vínculos trabalhistas, Silva contou com a ajuda da familiares durante os meses em que ficou afastado do trabalho. A repórter Giuliana Vallone, da TV Folha, também foi atingida no olho por outra bala de borracha, disparada por militares da Rota. A repressão violenta aos protestos de 2013 e 2014, praticada tanto pelo governo federal com a guarda nacional, quanto pelos governos estaduais mostraram que este tipo de comportamento agressivo por parte dos agentes do poder público é legitimada tanto pelos partidos de direita, quanto pelos de extrema-direita. Governo Federal e governadores incentivaram este tipo de violência contra manifestantes e trabalhadores.
É nesse sentido que devemos nos empenhar pelo adicional de risco para a nossa profissão. Neste quadro, o jornalista se torna cada vez mais exposto aos riscos, pois ao atuar nas ruas também está sujeito a ser identificado como um representante das empresas de comunicação e não como um trabalhador, ficando assim vulnerável aos ataques dos que ignoram que não somos aliados de nossos patrões.
As empresas para as quais trabalhamos têm objetivos antagônicos aos nossos, elas desejam lucro e poder, enquanto nós desejamos trabalho digno. É justamente por isso que Estado de Minas, grupo em que Beto Novaes trabalha, deu apenas uma nota de pé de página sobre a agressão. A empresa, enquanto apoiadora de um projeto de extrema direita, não quer macular os protestos, não quer mostra que expõe os trabalhadores a riscos e que não se importa com eles.
E é justamente unidos como uma categoria de trabalhadores que podemos enfrentar este tipo de agressão.