Mais do que legado da copa, truculência da PM contra manifestantes de BH é herança da ditadura

Não há dúvidas de que, historicamente, as polícias surgem fundamentalmente como instrumentos de repressão a serviço das classes dominantes. A obviedade dessa constatação não pode ocultar que, em determinados períodos da história, a burguesia precisa e está legitimada pelo aparato estatal (união, estado e município) para lançar mão abertamente da truculência policial como na noite desta quarta-feira (12), no cento de Belo Horizonte, quando centenas de pessoas manifestavam contra o aumento da passagem na capital mineira e foram agredidos pela Polícia Militar.

A prisão de 60 manifestantes e as pessoas feridas, entre elas o repórter fotográfico Denilton Dias, do jornal O Tempo, nada mais são do que resultado de uma política de estado. Mostra disso é a aprovação, na mesma noite, na Câmara dos Deputados, com o apoio do governo, do projeto de lei que possibilita enquadrar manifestantes como terroristas. Não se trata de uma coincidência, mas de um estado de coisas tipificador da sociedade capitalista brasileira nos últimos anos.

Em uma primeira análise poderíamos afirmar que esse é o tal legado da Copa do Mundo realizada no Brasil em 2014. Mas a violência policial contra manifestantes em todo o país antes e durante a Copa não tem também a sua herança? Sem dúvida que sim, pois o aparelho repressivo da ditadura permanece intacto, já que a “Comissão da Verdade” do governo federal não contribuiu em nada para denunciar e alterar a estrutura das polícias brasileiras.

No entanto, o fato novo é a necessidade da burguesia, em um período de crise, lançar abertamente mão da repressão policial para além das favelas a fim de manter suas altas taxas de lucro. Durante a copa, empresas de todas as áreas (comunicação, serviços, turismo, construtoras) lucraram milhares de dólares. Ao protestarem contra o aumento das passagens, centenas de jovens denunciavam a Prefeitura de Belo Horizonte a serviço dos interesses dos proprietários das empresas de ônibus, preocupados exclusivamente em manter suas altas taxas de lucro.

Nesse quadro de impunidade, a mesma aplicada pela “Comissão da Verdade” aos torturadores da ditadura, a polícia militar avançou contra os manifestantes lançando bombas de gás lacrimogênio e atirando balas de borracha contra estudantes e trabalhadores, pois sabe que hoje nem mais é preciso simular uma negociação, basta estar legitimado pelos interesses estatais e patronais.

Aos presos e feridos nesta quinta-feira, nosso apoio e solidariedade – Oposição Sindical dos Jornalistas de Minas.

Postagens mais visitadas deste blog

A defesa do diploma de jornalista é uma luta histórica?

Em busca do tempo perdido

Centrais aparelham e esvaziam caráter de classe do 1º de Maio