Aparelhamento do sindicato esvazia reflexão crítica sobre a Copa do Mundo
Sem dúvidas, as “Jornadas de Junho”, que levou milhares de pessoas às ruas do Brasil, instalou um importante debate sobre as políticas públicas do país. É inegável que as manifestações deste ano não possuem o mesmo apelo popular de 2013, mas isso não significa que o uso indevido de recursos públicos, em detrimento da educação, segurança, saúde, cultura e transporte, esteja perto de acabar.
E por essa razão, mesmo com a Copa do Mundo em curso, vemos centenas de pessoas ocupando as ruas do país para denunciar a precarização dos serviços públicos e direitos da classe trabalhadora. Vai ter copa? Não vai ter copa? Como sabemos, as perguntas costumam ser mais importantes do que as próprias respostas. E este é um debate que interessa a todos nós jornalistas. Mas, infelizmente, mais uma vez, a categoria tem sua condição de sujeito da história relegado à mera condição de espectador dos fatos, em função do aparelhamento do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais.
É lamentável vermos nosso Sindicato subjugado à condição de correia de transmissão de governos e partidos, promovendo uma verdadeira Fan Fest na Casa dos Jornalistas, enquanto os companheiros de profissão cobrem as manifestações sem condições adequadas de segurança. É vergonhoso vermos uma colega ser presa, a correspondente da Mídia Ninja em Belo Horizonte, Karinny de Magalhães, e a diretoria do sindicato realizando festa para inglês ver.
Não é a primeira vez que a diretoria do Sindicato, que tem entre seus parceiros de eventos os governos municipal, estadual e federal, promove uma atividade pró-copa, como o Encontro de Jornalistas Assessores de Imprensa, em agosto passado, no qual alardeou as vantagens para a categoria com a realização dos mega eventos. Quais as vantagens os jornalistas obtiveram com a Copa do Mundo? Os salários continuam achatados e com toda a dinâmica do mundial os bancos de horas só aumentam.
Não se trata aqui de propor à categoria que assuma uma posição pró ou contra a Copa, mas de denunciar o alinhamento automático da diretoria do Sindicato dos Jornalistas de Minas com a política oficial. O mínimo que deveria ser feito, eram debates sobre os mega eventos (Copa do Mundo e Olimpíadas), as manifestações populares, o lugar do sindicato dos jornalistas e da categoria na conjuntura, e não transformar o sindicato em correia de transmissão.